quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O vilão das estradas não é o álcool

Governo cria lei que proíbe a ingestão de álcool ao dirigir; mas acidentes continuam


No Brasil, pela lei de 19 de junho deste ano, quem for pego dirigindo com qualquer concentração de álcool será submetido à multa de R$ 955,00 e à suspensão do direito de dirigir por um ano, além de sofrer infração gravíssima, com sete pontos em carteira. Antes, era permitida a ingestão de até 6 decigramas de álcool por litro de sangue - o equivalente a dois copos de cerveja.
Contudo, nessas últimas semanas, acidentes graves ocorreram em diferentes estados do Brasil. Dentre os principais, destacam-se a colisão entre o ônibus e um caminhão em uma rodovia na região norte, um acidente em Pernambuco que matou dezenas de estudantes; e o acidente na Bahia com a van que vitimou 11 pessoas.
Nenhum deles envolveu a combinação álcool e direção. O que chama a atenção é o comportamento da mídia em relação a esses acidentes. A mídia não consegue explicar que mesmo após a Lei Seca e mesmo após a tanta espetacularização a respeito desta, os acidentes continuam acontecendo e de forma violenta.
Nas rodovias, a fiscalização do bafômetro existia mesmo antes da Lei Seca. Na lei anterior só quem fiscalizava com bafômetro era a Polícia Rodoviária Federal. O que acontece é que tentaram achar um bode expiatório para o trânsito violento e de uma forma intolerante jogaram toda responsabilidade nos motoristas, de uma forma geral. E o álcool tornou-se o grande vilão do trânsito.
O problema é complexo. Falta educação para o trânsito, carteiras de habilitação são vendidas no balaio, veículos caindo aos pedaços trafegam por nossas vias e rodovias e a maioria dos agentes de trânsito é mal preparada e mal- remunerada, o que dá margens à corrupção, onde apenas os menos favorecidos são realmente fiscalizados.
E o que o Estado faz? Cria uma lei em que toda a responsabilidade é jogada para o cidadão, e pune de forma generalizada uma grande maioria, penalizada pelas atitudes de uma minoria, mostrando toda sua incapacidade de lidar com o problema. Dezenas de vidas foram limadas nas últimas semanas e o álcool não tava presente, ou seja, não é ele o grande vilão dessa história.